Ramyres Coelho divide as prateleiras do quarto entre os prêmios e bonecas (Foto: Magda Lomeu)
Ramyres Coelho durante as Olimpíadas Escolares (Foto: Heuler Andrey/AGIF/COB)
Como toda jovem mulher, Ramyres Coelho aos 15 anos coleciona muitos sonhos. Mas diferente da maioria das adolescentes de sua idade, ela divide as prateleiras do seu quarto entre bonecas e troféus. As premiações são fruto do amor que ela carrega pelo xadrez no coração e agora também no pulso, já que há um ano, a atleta tatuou no local, o nome do esporte acompanhado de uma peça do jogo e do símbolo do infinito. E essa relação intensa com a modalidade começou muito cedo.
- Quando eu tinha seis anos, começou a ter xadrez no colégio onde eu estudava. Então eu e meu irmão nos interessamos e começamos a praticar. No mesmo ano participei aqui em Petrolina do meu primeiro torneio e fui vitoriosa na categoria sub 9. Acho que isso me ajudou e me influenciou a ficar jogando até hoje - relembra Ramyres.
Para traçar um percurso tão cedo no xadrez, a atleta precisou contar com o apoio da família, já que não tardaram para que as competições em outros estados e países aparecessem. E a jovem destaca exatamente estas experiências como as mais marcantes.
- Eu já joguei três mundiais. O primeiro foi no Vietnã e eu fui sozinha com o meu técnico, então foi um pouquinho puxado, porque eu só tinha 12 anos e isso me impressionou um pouco. Mas o mais marcante mesmo foi o que aconteceu no ano passado, que foi o mundial escolar em que eu consegui ser campeã e esse foi um grande feito na minha carreira - descreve com orgulho a jovem.
Mas o sacrifício de viajar sem a companhia dos pais em destinos internacionais valeu a pena, pois já rendem à Ramyres, além de conquistas no esporte, muitas histórias curiosas para contar.
- No Vietnã, eu estava jogando com uma menina de lá e ela fez o sinal de uma cruz na testa. Eu era muito pequena e não sabia o que isso significava. Depois ela abaixou o sinal até o peito e eu fiquei sem saber o que era. Então ela escreveu na mão draw, que quer dizer empate. Foi ai que eu entendi que ela queria encerrar o jogo sem que nenhuma vencesse, mas eu estava ganhando a partida e disse não. E realmente acabei vencendo - se diverte a adolescente.
Segundo Ramyres, no início o xadrez era praticado exclusivamente por reis, que ensinavam o esporte aos filhos. Por conta desta hereditariedade, só mais tarde as mulheres começaram a ter acesso ao esporte. Mesmo assim, a jovem atleta considera a diferença entre homens e mulheres no esporte cada vez menor.
- No esporte por categorias, os dois sexos estão no mesmo nível. Existem meninas que ganham facilmente de meninos. O problema mesmo do xadrez feminino é que depois dos 18 anos, as meninas costumam largar para se dedicar a outros interesses como estudo ou família. Mas geralmente quando a gente vai para competições, existem as categorias feminina e masculina. No fim dos torneios jogamos juntos, confraternizamos e acaba sendo uma grande festa - comemora Ramyres.
Nas horas vagas, a jovem gosta de ir ao cinema, de ler livros e assistir séries, mas para alcançar seus sonhos ela tem uma rotina carregada de cursos e dedicação. A atleta que cursa o segundo ano do Ensino Médio pretende ser engenheira.
- Estou pensando em fazer engenharia, Civil ou Química, justamente porque xadrez que me ajudou com os cálculos. Gosto muito de matérias exatas - planeja a atleta.
- O xadrez não é um esporte muito rentável no Brasil, mas eu não pretendo largar, porque ele já passou de um lazer pra mim. Então sonho me formar, ter uma profissão, mas conciliá-lo com o xadrez. - finaliza a jovem atleta.
Fonte: G1.com